Eu o contei um segredo.

"Eu o contei um segredo." Foi tudo o que ela disse antes de abrir os olhos e adormecer em seu despertar. Havia velado seu sono difícil durante toda a noite: respiração descompassada, suor frio, movimentos bruscos, resultados de uma febre causada por um simples resfriado, mas que tirava minha frágil paz.
- Você está aí ainda? - Murmurou uma Catherine enfraquecida e ainda sonolenta. Logo tentou se sentar, o que não permiti que fizesse. Envolvi-a com sutileza e deitei-a novamente. - Sim, minha querida. Fiquei ao teu lado a noite inteira. - Respondi enquanto lhe acariciava os cabelos. Seus suaves olhos, tão verdes quanto a mata fechada, se fecharam novamente. Murmurava:
- Eu o vi novamente. Parecia tão belo à dançar na luz da lua... Dançava como um mago que saúda a terra como uma rainha. Parecia um cigano ao redor de uma fogueira, movendo-se como as chamas do próprio fogo que criou. Ele me chamava com os olhos, como hipnose. Como mágica. Eu não sentia medo apesar de não conhecê-lo. Era como se eu me desse conta que eu sabia tudo sobre aquele estranho, mas que precisava somente relembrar. Haviam tantas distrações por perto, mas ele se concentrava em mim. Apenas em mim. Aqueles velhos olhos castanhos, transparentes como água, me mostravam isso. Ele me revelou seu nome, tão guardado quanto os segredos de uma dinastia Inca. Soava como a música do vento ao bater nas folhas das árvores. Era tão breve quanto o pio de um jovem passarinho. Queria levar-me para seus braços, para sua terra, mas julguei ser cedo e me retrai. Aquele deus de pele bronzeada, típica do mediterrâneo, envolveu-me em seus braços, entoou-me uma canção em uma língua desconhecida e adormeci, entregando meus sonhos e fantasias àquelas fortes mãos. Mas, antes de despertar em meu adormecer, eu o contei um segredo...

"Se você ler essas linhas, não lembre-se da mão que a escreveu. Lembre-se apenas do verso, o choro sem lágrimas do compositor por quem eu tenho dado a força e isso se tornou a minha própria força. Moradia confortável, colo da mãe, chance para a imortalidade, onde ser querido se tornou uma emoção que eu nunca conheci. O doce piano escrevendo minha vida. Ensine-me a paixão, pois temo que ela tenha partido. Mostre-me o amor, proteja-me da tristeza. Há tanto que eu gostaria de ter dado àqueles que me amam. Eu sinto muito. O tempo dirá esse amargo adeus. Eu não vivo mais para envergonhar nem a mim, nem a você.
E você? Desejaria não sentir mais nada por você..."



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