“Eu tive coragem. Ainda cedo sai para as ruas com o pés descalços debaixo de uma tempestade quadrúpede. Choviam mágoas, trovoavam versos, sua morte. Talvez eu estivesse precisando de lavar a minha alma, talvez apenas necessitasse precipitar um dilúvio interno capaz de transbordar tudo o que ficou impregnado e mal resolvido entre nós. Eu precisava me sentir leve, meus ombros tortos e acabrunhados não suportam mais o insustentável. E em um surto quase esquizofrênico corro pela avenida esbravejando pelos olhos a minha breve conquista. Era a expressão exata e incorrigível do meu olhar de despedida dizendo fica. Meu suicídio sentimental escorria com as águas pelos bueiros da marginal. Espaços na língua, espaços entre os olhos, entre os dentes, espaços na alma, ao chegar em casa pude constatar a capacidade do ato virar uma doce e perfumada lembrança feita de pés, cicuta, mãos e olhos molhados. Sua visão refletida no assoalho frio e intrépido apenas constava o óbvio. Tinha me tornado matéria reciclável. Na esteira aguardava ser finalmente transformado em algo um pouco melhor. Permita-me, mon chérri. Permita-me voar vazio, tão leve e sublime. Talvez agora separados os atos dos afoitados e corruptos sentimentos de dor você entenda que a saudade é apenas a vontade de se ter o que se foi e o que jamais voltará, assim como a água da chuva. Eu queria mover-me feito luz e diante da interminável estante de livro catar doces metáforas para compor na pele fina do seu corpo os versos mais lindos feitos por amor. E depois de escorrer-me pelo mundo a fora vir preencher mais uma vez o pote dos seus olhos com as minhas águas purificadas. Talvez seja porque, mesmo depois de jogar fora toda a dor, a inocência peça que fique. Isto é tudo que nos resta. Talvez esteja aqui por você, talvez mais um vez por mim. Talvez isso seja o pra sempre. Eu preciso arrancar as minhãs mãos e coloca-las sobre a mesa. Quero seus monólogos ardentes no meu ouvido. Há muito espaço aqui. A sujeira ficou nas sombras dos vulneráveis gestos articulados pelo acaso. A minha alma esta solta, desacortinei os aposentos da solidão. A sua voz ecoa no abismo do meu peito que devora os olhos esquecidos na cadeira. Venha mon amour, deite-se sobre o minhas vestes molhadas. Nosso destino está selado? Não, são apenas nossas almas limpas e soltas por cima de nós.”
— Elisa Bartlett

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"Se você ler essas linhas, não lembre-se da mão que a escreveu. Lembre-se apenas do verso, o choro sem lágrimas do compositor por quem eu tenho dado a força e isso se tornou a minha própria força. Moradia confortável, colo da mãe, chance para a imortalidade, onde ser querido se tornou uma emoção que eu nunca conheci. O doce piano escrevendo minha vida. Ensine-me a paixão, pois temo que ela tenha partido. Mostre-me o amor, proteja-me da tristeza. Há tanto que eu gostaria de ter dado àqueles que me amam. Eu sinto muito. O tempo dirá esse amargo adeus. Eu não vivo mais para envergonhar nem a mim, nem a você.
E você? Desejaria não sentir mais nada por você..."



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