As várias faces do amor.

Fiquei sentada perto da janela durante toda a tarde. Um livro empoeirado ressurgiu dos confins do meu armário e foi parar em minha mão. A capa dura, verde-escura, parecia manchada. As folhas envelhecidas, amareladas, o cheiro nada doce de guardado. As letras tão formosas quanto as de um convite de casamento, escritas em dourado, já davam uma noção de seu assunto: Romance. 'Não conte a ninguém' conta as divergências de como um relacionamento iniciado forçadamente, através de um erro iniciado pelo desejo, pode se tornar algo bom. Conta também as dificuldades e traições vistas de ambos os lados. Sofrido, doloroso para o coração, mas belo. Pelo menos me distraiu o suficiente para que eu não percebesse a chuva que começou a cair. Geralmente, ela costuma me lavar o interior. Acho que preciso de algo além disso.
A questão é: no livro havia três concepções diferentes de amor: Nicholas olhara alguém que crescera junto a ele e amava. Amara tanto que ao perder, enlouqueceu. Para no fim descobrir que não amara. Enlouquecedor? Completamente.
Lord du Roche amava tanto Genevieve que foi capaz de matar por esse amor. Mesmo assim, acusava-a o tempo inteiro de, durante os 9 anos que ele simplesmente sumira, correndo atrás de outra, ter engravidado de outro homem.
Mesmo com dor ao ver a mulher que até então Nicholas amava próxima dali, e sabendo que ela o amava, Simone cuidou de Nicholas, seu esposo forçado pelo destino, com um amor divino, carinhoso e prestativo. Cuidou como quem cuida de uma flor ferida.
O que mais me intriga é o que Lord du Roche disse. "O amor não passa do encontro da luxúria com a oportunidade. Não ocupa lugar na vida real, pois, por mais que o procuremos, ele se esquiva. O amor é um mito, um tesouro lendário."
Por mais que o que sinto não se encaixe nessa frase, venho sido tentada a acreditar nela. Ou pelo menos, tentada a desejar que ela seja verdade. O jogo de interesses materiais seria muito mais fácil que simplesmente o jogo de conquistas do coração. Seria mais fácil que amar devotadamente, e descobrir depois que esse amor não passava de amizade. Mais fácil que amar tanto, a ponto de matar por esse amor. Mais fácil que ouvir por erros de décadas atrás, erros que sequer eram erros. Mais fácil que devotar amor a quem podemos ver nos olhos e nas atitudes que não é capaz de devolver tal amor. Mais fácil que olhar nos olhos de quem amamos, e ver que  não podemos fazer com que acredite em nosso amor.
A chuva ainda cai, o céu é escuro, e tais questionamentos vão seguir por toda a noite... segundo por segundo, até que descubra as respostas sobre o que sou, o que sinto, o que sentem.

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"Se você ler essas linhas, não lembre-se da mão que a escreveu. Lembre-se apenas do verso, o choro sem lágrimas do compositor por quem eu tenho dado a força e isso se tornou a minha própria força. Moradia confortável, colo da mãe, chance para a imortalidade, onde ser querido se tornou uma emoção que eu nunca conheci. O doce piano escrevendo minha vida. Ensine-me a paixão, pois temo que ela tenha partido. Mostre-me o amor, proteja-me da tristeza. Há tanto que eu gostaria de ter dado àqueles que me amam. Eu sinto muito. O tempo dirá esse amargo adeus. Eu não vivo mais para envergonhar nem a mim, nem a você.
E você? Desejaria não sentir mais nada por você..."



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