Nós paramos o Rio de Janeiro!






Desde de manhã cedo não se falava em outra coisa no trabalho: A grande manifestação que prometia parar a Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio. Uns diziam que era bobagem, outros diziam que era louca em querer ir e outros louvavam a coragem, incentivavam e ainda diziam querer ir junto. Confesso que a manhã passou lenta e estressante, todos com os nervos à flor da pele: uns por ansiedade, outros por quererem ir embora dali.
Isto não vem tanto ao caso.
14:20 e a grande maioria desesperada para ir embora. Eu e mais duas amigas do trabalho largamos e fomos atrás de cartolina. Estávamos decididas a participar da manifestação. Minha mãe ficou louca de preocupação (o que nao é nenhum tipo de novidade pra ninguém) e meu pai também ficou (o que é realmente uma surpresa). Só não entendi a do meu pai de falar pra eu não fazer vandalismo. Sei lá, eu devo ser muito estranha. .-.
Cartolinas compradas, rumamos em direção à concentração na Candelária. Observação: Até o comentário infeliz de "olha as crianças indo pra manifestação" nós ouvimos. Eu, sempre com resposta na ponta da língua, afirmei: "Se você tivesse feito o que estamos fazendo agora, nós "crianças" não precisaríamos fazer isso". Enfim. Chegando à Candelária, gente e mais gente... um mar de pessoas se estendia realmente! Feitos os nossos cartazes, nos juntamos ao aglomerado. Nos discursos a exaltação dos gastos do governo do Estado, da aliança com Sr. Eike, a quantidade de petróleo negociada com os EUA, a presença dos bombeiros (corajosos bombeiros que mais uma vez retornaram para erguer sua voz), dos policiais civis e, para minha surpresa, do índio, que mostrava a sobrevivência da aldeia Maracanã. A multidão já aquecida surpreendeu ao fazer o "barulho do índio". Havia gente de todos os estilos, cores, idades... Falando em idade, uma senhora de 70 e poucos anos, cabelo branquinho... agradecendo ao movimento por proporcionar a ela a visualização da democracia. Aplaudida por todos, claro! A tal concentração havia se iniciado próximo às 16hrs e apenas às 18:30hrs começamos a marcha em direção à prefeitura.
Detalhe importante: Ainda na Candelária, na concentração, tomamos ciência de que a multidão se estendia até a Avenida Passos. Peguem o mapa quem não conhece... É surpreendente!
Tendo iniciado a marcha, as pessoas dos prédios ao nosso redor se levantavam, acendiam suas luzes, piscavam-as em nosso favor. Aplaudiam, jogavam papel, nos reverenciavam. Coisa linda de se ver. Nosso canto os alcançava e os faziam delirar. Todos em uma só voz, cantando coisas como "Sem violência" ou "Da copa eu abro mão. Quero dinheiro pra saúde e educação" e com os cartazes erguidos. Inclusive o meu próprio. Havia um helicóptero nos acompanhando e a parte "estranha" começou quando vinha um segundo, dessa vez da polícia militar, sobrevoando cada vez mais baixo e sendo, obviamente, vaiado por tal atitude. Até então, perfeito. Mais pacífico, impossível! O ponto alto foi quando passamos por debaixo de um viaduto que tinha várias pessoas com suas motos paradas e nos aplaudindo e cantando conosco. Naquela hora eu não era eu. Eu não tinha um rosto, uma identidade, um nome e sobrenome. Me senti uma molécula do Rio de Janeiro, do Brasil, do mundo!
Tudo correu muito bem até chegarmos perto do prédio dos correios. Primeiro, uma correria e nós, obviamente, nos assustamos. Sentamos no chão até que tudo se normalizasse com o mesmo canto de "sem violência". Levantamos denovo e novamente outra correria, acompanhada de um pedido de calma. Nisso minha mãe liga, ORDENANDO que viesse pra casa. Disse ter um reboliço em frente à prefeitura sendo mostrado ao vivo na TV. Parecia tudo bem mas preferimos não arriscar. Enquanto voltávamos muitas pessoas voltavam também, REVOLTADAS por terem sido atingidas sem motivo algum. É claro que havia pessoas realmente fazendo algazarra, mas em momento nenhum presenciei o TERRORISMO que a nossa mídia faz parecer.
Por que não mostraram a concentração? A defesa do direito dos trabalhadores, dos estudantes, dos professores, dos índios? Por que não mostraram as diversas vezes que cantamos o orgulho de ser brasileiros, o hino nacional cantado diversas vezes (incluindo a confusão eterna entre a parte do meio onde todo mundo abaixa a voz pra tentar lembrar se é "amor eterno" ou "um sonho intenso")?
Voltei pra casa com olhares estranhos vindo das pessoas que participavam da festa da minha cidade. Ouvi coisas como "protesto? Que nada, isso é baderna!" e senti dó. Quer saber da real? Eu senti medo enquanto estava lá. Mas, mesmo com medo, fui defender os meus ideais, os meus pontos de vista e, sobretudo, os meus direitos. Não só os meus, mas os desses que estão na festa, dos que dizem que é baderna, dos que simplesmente se aposentam na frente da televisão e olham por olhar o que está havendo.
Eu estava lá por minha mãe, por mim, pelo meu filho que sequer foi germinado. Pela minha casa, pela minha rua, pelo meu bairro, minha cidade, meu estado, meu país, pelo mundo! E nada nem ninguém irá calar minha voz.




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"Se você ler essas linhas, não lembre-se da mão que a escreveu. Lembre-se apenas do verso, o choro sem lágrimas do compositor por quem eu tenho dado a força e isso se tornou a minha própria força. Moradia confortável, colo da mãe, chance para a imortalidade, onde ser querido se tornou uma emoção que eu nunca conheci. O doce piano escrevendo minha vida. Ensine-me a paixão, pois temo que ela tenha partido. Mostre-me o amor, proteja-me da tristeza. Há tanto que eu gostaria de ter dado àqueles que me amam. Eu sinto muito. O tempo dirá esse amargo adeus. Eu não vivo mais para envergonhar nem a mim, nem a você.
E você? Desejaria não sentir mais nada por você..."



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