Estou numa sala escura. Não aquele escuro que dá para distinguir qualquer forma. Me refiro ao preto mais preto que o céu negro ou que olhos pretos. Breu total. Uma luz branca sai de algum lugar e me surpreende. Quase fico cega. Um misto de espanto e pavor me corrói. Chego a sufocar. O terror dá lugar a incompreensão quando noto que na parede à minha frente passa um filme, decalques brancos na parede negra. A surpresa é ainda maior quando vejo que o filme se trata de nós. Danças em algum lugar, beijos roubados, indecentes ou não. O jeito que me olhava com admiração enquanto sua boca (ah, que boca!) se curvava naquele sorriso torto que me fazia perder o fôlego. O jeito estúpido de rir, de me inclinar no ar para me beijar, o seu longo, enlouquecedor e torturante beijo de adeus.
Me vi sentada no canto da sala novamente escura. Parecia chover em mim. Uma maldição e uma benção. Ergui o olhar marejado e notei que adormeci; adormeci tão suavemente que posso afirmar que foi em seus braços. Só não sei como.
0 Comentários:
Postar um comentário